Divulgação

XXVI Encontro Nacional de Economia Política publica carta aberta

O evento foi realizado pela FACE de forma remota.

Após o XXVI Encontro Nacional de Economia Política, realizado pela FACE-UFG, a Sociedade Brasileira de Economia Política divulga a 'Carta de Goiânia'. Confira:

XXVI Encontro Nacional de Economia Política
Universidade Federal de Goiás

Carta de Goiânia

Quando realizamos o XXV ENEP, em novembro de 2020, diversos países avançavam na organização de seus programas de imunização contra a Covid-19. Ao mesmo tempo, a Carta de Salvador denunciava a perda de mais de 162 mil vidas no Brasil. Hoje, durante a realização do XXVI ENEP, sete meses depois, já são oficialmente contabilizadas mais de 484 mil mortes – número que seria cerca de 30% maior caso fosse considerada a subnotificação de óbitos resultante da baixa testagem diagnóstica –, mantendo o Brasil no topo do ranking daqueles que mais matam por Covid-19, e agora como um dos que menos vacinam como proporção da população.

Lamentamos que o teor desta Carta de Goiânia não seja em nada diferente do da Carta de Salvador, exceto pelo aprofundamento dos problemas sociais, sanitários, econômicos, ambientais e políticos. A agenda econômica conservadora agora se atualiza com a tramitação da reforma administrativa, a autonomia do Banco Central, e a MP que encaminha a privatização da Eletrobras. O desmatamento, a pilhagem e o saque dos recursos da Amazônia, Pantanal e outros biomas, o assassinato de seus povos e o afrouxamento da legislação ambiental reforçam a política explicitamente voltada aos interesses do agronegócio e do latifúndio. O anticientificismo e o negacionismo como elementos condutores das políticas sanitárias são agora escancarados pela “CPI do Genocídio”. Anticientificismo, aliás, manifesto em inúmeras iniciativas do governo no sentido da destruição das instituições públicas de pesquisa como INPE, IBAMA, ICMBio, FIOCRUZ, IBGE (vitimado pelo adiamento do censo demográfico sem o qual sequer teremos elementos para diagnosticar a realidade). A agenda em curso ataca também a raiz dessas instituições: os cortes orçamentários na ciência e tecnologia e na educação superior já apontam para uma inviabilidade de funcionamento de várias universidades brasileiras nos próximos meses e parece ser prenúncio do fim das universidades públicas como as conhecemos, advindo daí os perigos de um ensino remoto interminável, em vias de transformar o já conhecido Ensino à Distância no novo normal. Apesar desse sucateamento, as instituições públicas de pesquisa foram cruciais na realização de estudos sobre a pandemia no Brasil, incluindo o desenvolvimento e a produção de vacinas e o tratamento de milhares de pacientes nos hospitais universitários públicos.

Agravado pela emergência de uma sociedade da pós-verdade e pelo recuo a formulações que remontam à Idade Média, o cenário brasileiro pós-pandemia se mostra absolutamente incerto. No plano político, frente aos delírios golpistas de Bolsonaro, não se sabe sob quais condições serão disputadas as eleições de 2022. No plano socioeconômico, o cenário que se desenha é de estruturação de um novo padrão de trabalho precarizado, e do desemprego e da pobreza em patamares que até poucos anos atrás considerávamos superados. No primeiro trimestre de 2021, a taxa de desemprego calculada pela PNAD Contínua (IBGE) atingiu o recorde histórico de 14,7%; são 6 milhões de brasileiros e brasileiras no desalento, e 33,2 milhões de pessoas subocupadas. Além disso, 12,8% (27 milhões) da população vive atualmente abaixo da linha de pobreza: já são 14,4 milhões de pessoas a mais nessas condições desde o início do governo Bolsonaro, e a fome atinge 2/3 da população urbana.

É nesse cenário de precarização das condições de vida que a SEP realiza seu XXVI Encontro Nacional de Economia Política e celebra os 25 anos de sua fundação. Os desafios impostos pelo acirramento das tensões nos anos recentes reforçam a importância da SEP enquanto uma das mais importantes associações científicas representativas do pensamento crítico, que resiste ao estrangulamento orçamentário imposto pelos órgãos oficiais de ciência e pesquisa. Em tempos de negacionismo da ciência, a responsabilidade das associações científicas comprometidas com o pensamento crítico e com a superação das mazelas sociais aumenta. A SEP e seus associados estão à altura dos desafios impostos por esta conjuntura. O caráter agressivo da agenda bolsonarista requer uma resposta imediata, e a gravidade deste momento histórico exige mais do que apenas a contribuição intelectual, mas a atuação de seus associados e associadas na construção dos diferentes espaços de atuação política que busquem transformar esta realidade.

A SEP se solidariza com todas as famílias que perderam familiares e amigos para a pandemia da Covid-19, absolutamente agravada pelo vírus do negacionismo que virou política deste governo. O negacionismo mata! A ciência produzida nos órgãos públicos deste país salva!

Sociedade Brasileira de Economia Política
Goiânia/GO, 11 de junho de 2021

Fonte: Ascom | FACE